O amor substitui o ser sem estar vivo. Estar vivo é montagem de Deus. Escrever é ter Deus distante, inacessível. Deus é o sossegar da escrita, da fé. Escrever dá o ser ao corpo. Esmorecer sem o corpo e ter alma dupla, em um viver eterno. O mundo é uma linguagem indecifrável, que se fala em vida. Tudo tem o seu momento. Não existe momento de escrever, existe o escrever isento de tudo. É uma necessidade morta, que revive o ser. Sem o amor, a necessidade isenta do amor é apenas necessidade. Uma necessidade tão intensa se confunde com morrer. Morrer é ter necessidade de algo no morrer. O auxílio de sentir é o mar sem partir, ficando dentro de mim, no mar ausente de mar. Vivi de tudo. Até o não viver se vive como mar. O mar é lento nas ondas do tempo e sente o parar do meu coração, como uma prece. Pela primeira vez, a força da morte vem a mim e me enfraquece. Não sou nada sem a morte. Ela me deu tudo, fez tudo por mim. Esqueceu apenas de me deixar viver, como a imagem de um desnascer de eternidade.
