Blog da Liz de Sá Cavalcante

Vida insubstituível

Toque-me, porque é insubstituível, aumenta a minha dor, que fica rara, única. Os braços corroem o corpo, deixam-me sem dor. A dor é consciência. Nem a consciência, nem nada cria o corpo. Criei-me sem o corpo. Sem alma, sem mim revi o que perdi. Perder é poder perder, é ter muito mais. Não consigo deixar de morrer. Os dias são perdas vividas. A vida ainda acontece pelas perdas. Não sinto a morte. Vou construir minha morte com a vida. O que deveria ser eu além de mim? Minha morte. Amar me falta o ar. O submundo da morte de amor morto-vivo. O amor é vivo na morte. Sonhar o partir como se fosse meu corpo e eu acordada dentro de um corpo. Ele não me quer. Eu o quero como um sonho. Eu sonho e acordo sem corpo. O corpo é reconhecer meu nada. A distância preserva a alma, mantém-na acessível. O corpo frio, inacessível, bem que deveria ser alma.