O nada é ilusão, nadifica o ser, mata-o. O que significa ilusão? Um pedaço da vida que não foi perdida. Ilusão é arte, poesia. Desenho almas no vazio de mim. Penso ser, mesmo sem alma, e meu vazio se torna alma real. Alma é a lembrança da vida. A lembrança não apoia o ser. Se tudo fosse ser, Deus não existiria. A lembrança é a vida do nada. O nada é a imensidão de um mar de estrelas. A plenitude não existe. É a essência de uma coisa inacessível a plenitude. O sonho torna a plenitude real. A inconformidade é um sonho. O sonho das minhas mãos não deixa meu ser dormir. O nada substitui o sono, o ser. O ser e o nada, unidos, são o despertar vazio, como o mar todo em mim. Sem mar, não sei de mim. O nada, sabedoria do mar. O sonho penetra na pele, saindo de dentro da vida para o ser. O sonho é sem imagem, sem palavras, sem atitudes. A imagem do sono é o nada vivo, é a força do nada em mim. Desistir é força. Pele por pele, fico com a força que supera a pele nos poros do nada. Tão artificial respirar quanto a vida. O ar, escuro de emoção, mobiliza a vida. A vida sem mãos não é vida. Pode o corpo ser a falta da vida das minhas mãos. As mãos são uma forma de ter céu. O céu se segura nas minhas mãos e descansa. Flores de angústia sustentam o céu e o salvam do prazer eterno, que não é a morte, é a cura das minhas mãos na poesia, em um prazer comum. Tudo me invade, não fica, torna-se amor. Simbiose de sonhos é o céu. Se o sonho aprendesse a sonhar, seria a morte. Nada se parece, tudo é sonho. Tudo deveria ser vida? O nada é inseparável do nada, confiança sem paz. Os passos da eternidade caminham nos meus sonhos. Não há sonhos sem eternidade.
