O Sol noturno é a alma. O viver sem escuridão do Sol noturno é eternidade. O tempo se diferencia do Sol. A alma e o Sol não podem ser o tempo sem alma, sem Sol. O Sol é a lembrança tardia misturada com o esquecimento tardio, por demorar. Não há esquecimento, nem lembrança, há apenas ser. O ser desconecta a vida vazia. Agora posso sentir a lembrança e o esquecimento, viver. Nunca mais os esquecerei, pois estão dentro de mim. A morte vive outra lembrança, outro esquecimento: o de morrer, que separa a morte lembrada da morte esquecida, esquecida na morte. Eu evito morrer. Quero me consolar na falta de lembrança, de esquecimento. A vida nasceu do esquecimento. O espelho do esquecimento é a alma. Quando o espelho se quebra, a alma morre por não ver seu esquecimento. O espelho recolhe seu olhar. Respirar faz eu me esquecer. A imagem me deixa incompleta. Não quero sonhar. Sonhar é a imagem do fim. Desligo-me da alma. Morri por ser boa. Melhor ainda é o fim como fala. Nada é o que persigo. O tempo persegue a si mesmo. O “em si” não é um ser. Nada supera o ser. Existem seres que se unem pelo amanhecer. Nada vi amanhecendo. Eu acredito sonhando. Onde está a morte? O céu, as estrelas simbolizam a morte. Não há como fazer estrelas. Destituí-me de mim. O pior disso é não poder mais escrever o sentir. Sentir é uma estrela que não brilha, é a estrela do nada como sendo a infinitude de Deus. Deus sem estrelas é o sentir que nunca chega. Quero que o meu corpo me ame como o desperdiçar de uma estrela. O tempo de uma estrela é a falta de céu. Nada fica entre estrelas. Procuro estrelas, mas elas são apenas compensações. A estrela é uma forma de esquecer meu corpo, morrer e viver. Sou morte, sou vida. O Deus das estrelas é o céu. Deixo a alma acesa. A alienação da vida é a estrela. Nada se é sem estrelas. Conto teus céus para as estrelas. O dormir é a eterna estrela que não sente como partiu. Escrevo para a morte sua resposta: é a estrela nas mãos de Deus. Deixo que nas unhas do amor desapareçam as estrelas em mim. Nunca esse desaparecer é por onde o corpo nasce. O corpo nasce pelas estrelas. Esse nascer, onde a alma esquece de viver por nascer. Morri emocionada, sem estrelas. Tudo é respeitado. É a consciência do não haver que torna a vida real. O desaparecer torna a estrela real e memória e esquecimento não precisam ser estrela. Tudo se sofre em estrelas. A minha ilusão de estrelas é porque a vida não cessou por causa da estrela. Eu sou a infinitude da estrela sem a compaixão pelo infinito. Infinito é o corpo da alma no fim do tremer das estrelas.
