A linguagem da vida obstruindo a linguagem divina em um sopro de luz. Esse sopro de luz obstrui a vida. Sou demais para a eternidade, pois não vivo a eternidade. O céu é uma eternidade vazia comparado a minha dor. O eterno não se faz eternidade, assim como o Sol desaparece e esqueço de ser feliz. A alegria é desabitada, só, como uma rolha no nascer. Nascer de mim é apenas espírito. Nascer é ser duas vezes, é dividir-me em duas de mim. Em mim foi fácil esquecer a alegria combatida com a morte. Tudo era sendo. Ninguém tem a minha morte. Ela é morte apenas do ser, não minha. Entre mim e ser há uma distância intransponível, na qual sinto meu ser sem a proximidade, sem ser só. Só é o que criei em mim, uma solidão duvidosa. O nada atravessa a minha solidão. O nada abraça a minha solidão, cobre meu corpo de amor. O silêncio é um abraço na alma. A falta do abraço é um corpo noutro corpo, mortos no abraço que nunca se deram.