Movimento-me sem necessidade até minha alma, a vida, a solidão, que parou; e o corpo movimenta-se pelo flutuar do pensar. É bastante tempo morta. É como se o tempo fosse apenas morte: não é tempo! Tempo é a convivência com a alma. Minha morte foi um instante apenas, sem certezas ou incertezas, sem vazios ou alegrias, apenas o meu fim, em expectativa pós-morte. A incerteza de morrer é a morte. É morrer como sendo o valor da morte. Ver é apenas a morte. Vejo a morte nas coisas que têm vida. Não há crime na morte. Ela não me matou, excluiu-me de si e de tudo. Excluiu-me de mim, tornando-me eu. Será que tenho significado sem eu morrer? Não amar? Não amar são tropeços da alma. Quando eu era apenas um corpo, era feliz, mas ser eu dentro de um corpo é demais para mim. O corpo sem mim é um espaço nunca preenchido, é Deus em mim. Deus é meu corpo; não pode ser minha alma. Minha alma sou eu saindo do meu corpo para o nada do corpo, para não ser só. As oscilações do nada descobertas em um amanhecer sombrio, triste. Nada vivo sem o nada. A presença do silêncio cortante na alma me dá vida. O nada, como ausência, é imagem da falta de imagem.