Nada se foi pela eternidade da falta de mim. A eternidade precisa ser real. Ouço vozes por dentro de mim, são sensações vazias. O nada nunca foi assim, carente de mim, vulnerável, como se pudesse ser metade de mim. Não sofro pelo nada ser eu. Atingindo o real ao viver, respiro. Meu respirar está sem ar, respira em delírio: não sou só. Respiro para afastar o medo, a solidão. A compulsão pelo real me fez morrer. É melhor do que viver em sonhos. Vejo em mim o que não existe, sem a inexistência das coisas. Nunca pedi para viver. Quero apenas respirar sem forçar meu coração, minha imaginação, a serem reais. O céu esconde minha alma de mim. Minha alma, metade passado, metade solidão. Minha alma em pele de rosas. Afundo no firmamento sem céu. Em que sou eu na metade de mim que deixei com você? O mundo, lembrança de eternidade. O eterno é uma mistura da vida com o sonho. Qual em mim é alma? Sabe de mim, alma dos meus sonhos, como me tornei real para ti? Nos teus sonhos, é claro. Sonhos são escadas do tempo. Amo, sonho, mas ainda sou eu? O que faço em mim? Sonho para não perceber a morte: torpor de amor. Para viver metade de mim, renuncio a morte. A outra metade de mim é minha morte. Escrevo estrelas com mãos de sonhos. Assim não há nada entre mim e eu. Eu em mim sou o universo das estrelas, sou o coração da vida. Estrelas não têm vida, elas são a imensidão do mundo. Contida em um abraço, abraçando, vou descobrindo a vida, tornando-me vida. E se a vida não me quer, eu a conquisto com o brilho dos meus olhos, que ama a vida sem saber, mas algo nos meus olhos me diz para amar a vida. A inconsciência do meu olhar é meu amor pela vida. A consciência do adeus cessa o meu olhar sem se despedir da verdade: a minha tristeza. Assim não há metades de mim, há apenas eu. Sem poesia, sem amor. Apenas eu e a morte. Temos a mesma morte: nossas tristezas. Às vezes o amor arrebenta a alma e, assim, sofro. A inconsciência das palavras me dá consciência, mas tenho que lidar com a consciência do amor, do meu corpo. É pior do que a inconsciência. Morri na minha identidade. Não há faltas na morte. Ela foi acabada por si. O inacabado é a vida. Todo mundo tenta lhe dar um fim. Não tenho mais medo do real ou irreal. Apenas tento ser eu, mesmo não sendo real. Você, minha consciência, será sempre consciência na inconsciência de mim.