Blog da Liz de Sá Cavalcante

Confiança

Confio na desconfiança da vida. A vida é curta, nega seu passado, isento de mim, por isso, não pode me negar, mas pode calar minha alma. A vida, sem me ouvir, é um monólogo. O silêncio da alma sou eu em mim. O intervalo entre o silêncio e a fala são as palavras. A vida é o ar das palavras, do instante vazio. Eu renuncio o que sinto nas palavras. Sentir é não sentir. A indiferença da vida é amor. O amor do meu corpo é apenas dele, é isento de vida e de morte, e de mim. A poesia confia em mim, que consigo viver a vida, mas eu não confio. Saudade é poesia. Morte e vida separadas pelo amor, numa única perda: não ser só. Tem amor de uma única vida, tem amor de várias vidas. O amor, eternidade da pele, do ser. Nada vive sem a pele de ser, cessa a pele do ser. A luz é a pele do sol. Ter pele, falta de confiança em ser.