O ser domina a morte com pensamentos divinos, num sopro de morte. Apenas o ficar sente a ausência sem o corpo. Ficar é ausência do ficar, não de ser: isso é permanecer, mesmo sem presença, na presença do outro. Duas presenças são a falta de um único ser: eu não estou na presença. Não sou ausência: sou a subjetividade do nada no coração de alguém. A destruição da alma não é o amor, é algo maior: é a sensação de amar. É tanta pele no meio do nada, o ser se desfez em pele. O som do nada me inspira além do silêncio, além do retorno ao nada. Eu não acredito no ficar apenas para retornar. Retornar de onde nunca estive. A insegurança do mar é o sol, é a vida. Afastar a tristeza com a consciência me deixa ainda mais triste. O nada substitui o vento, a sede, a fome, substitui até o próprio nada, mas não substitui a morte, como a sede, a fome de morrer, no ventre da solidão. Recuperei minha alma por causa da solidão. Sem a solidão não há o nascer da alma, na alma. Perco os sentidos, mas ainda sinto a alma. Não posso morrer, se eu sinto a alma. A morte está aprisionada no meu ser, por amá-la, como amo a alma. Enfim, não tenho mais medo da solidão: ela é pedaço da minha alma, onde me despedaço inteira, porque as palavras necessitam de mim para viver, sendo poesias, mas elas vivem apenas se tiverem a minha solidão em mim.