Blog da Liz de Sá Cavalcante

Inconfundível

Inconfundível o nada. Eu confundo meu ser nas coisas inexistentes. Quero esconder da minha morte quem eu sou. Como aprender a amar na morte? Lembro-me apenas de lembrar, dia e noite, não nas lembranças, mas em mim. Mergulho no seco da vida, do amor: é como ser eu outra vez. Não dá para ser eu. Sou apenas a sensação do nada, ao tentar chorar, respirar. Não sou responsável pelo meu respirar. O olhar confunde o fim com o começo. Algo partiu sem o sentir partir. O nada é fantasia do imaginar. Vivo a falta de instantes como um momento da alma. O amor não consola a alma. A alma consola o amor, refaz vidas. O suspiro são palavras escritas no vento suspende o infinito nos instantes vazios, que pertencem ao nada. O nada reinventa-se. O mundo se fez pra mim. A consciência é inconsistência da alma. A morte é contraditória nas lembranças. Sem alma, sem mim, a lembrança tem a vida. Devo ao sonhar o meu ser, meu amor. Nada destrói uma alegria absoluta. O real é a liberdade. O sonho de outro sonho é a consciência da alma, do céu, das estrelas, no tortuoso mar sem fim. Se o mar fosse finito, ainda seria mar. O mar escurece no amanhecer, cada gota de mar substitui o esquecer eterno num vazio de eternidade. O dilúvio da saudade no naufrágio do vazio é a morte no céu. Senti teu silêncio no céu da saudade. Em mim, ficou apenas o mundo de te esquecer.