Blog da Liz de Sá Cavalcante

Obscuridade

Como se, e na obscuridade do nada, um momento de solidão? O nada modifica o ser. A existência é a morte, não nega o ser, nega a si mesma, se mordendo de sol. A existência humana é a alma, poesia de um único momento, que faz da vida uma poesia. A alma, fragmento do corpo, incorpóreo: minha tristeza. A alma nasce como corpo, se torna alma ao aprender a amar. Não nascemos amando. Essa necessidade me faz sugar tudo, ao sorver o nada e abolir as lembranças que vêm com o tempo. Ficar com a lembrança de nascer, ainda sendo eu. Lembranças impedem a realidade. O vazio da tristeza é o ser. O abismo, essência sem realidade. Nada atravessa a alma. A vida exige tanto de mim, e do não ser em mim. Sou apenas uma exigência da vida, que não é eu, nem sou eu. O eu é para si o que não é para a existência: meu silêncio profundo de desistência da vida. Não consigo nem ser só. Tenho forças apenas para morrer, ver meus sonhos, e me separar de mim. O respirar seria ao menos uma lembrança distante? Sei que a morte me mantém esta lembrança, mas não me faz sofrer: respirar é como criar. Enfim, não estou só. Estou na lembrança de criar.