Blog da Liz de Sá Cavalcante

O nada sem alma

Nem o amor é o amor que lateja em mim. A falta do amor é a sinceridade da vida. A vida é feliz sem amor. O ser é triste, sem amor, é sem mim. Em mim, há ao menos a ilusão do amor. O sol desaparece no amor. O sol é o único espaço, onde Deus pode ficar. O sol é a encarnação de Deus. Sempre é cedo para o amanhecer. Mesmo a vida a cessar, ainda sou eu. Devagar vou morrer até desabrochar. O nada da voz se faz ouvir, até o infinito. Não existe o bem e o mal, existe o eterno na realidade da pele. A pele é o bem e o mal sem realidade. O nada me faz superar a morte, o céu, as estrelas. A pele é a perfeição do mundo. As alegrias, o amor, a tristeza, são um mundo novo. A vida não tem nada parecido com vida. A vida é isenta de vida. Para o corpo ser vida tem que não se dar a alguém. O sol é a continuação da vida. Amo a vida sem vivê-la. O sentir do sol no amanhecer é o fim. Fim, onde fui feliz. A morte é o limite da alma. A alma me faz ser. A morte é a falsa transcendência. Escuto o amanhecer na alma. Logo, o silêncio toma conta de mim. O tempo não se escuta. O céu limpa-se com mortes. O tempo para, o que não para é o ser. Nasci morta, sem morte.