O amor é uma morte em vida. Amor, continuação de mim. O silêncio não é amor. O mundo, a vida, é sem silêncio. Apenas o silêncio atravessa a morte da alma, conversa com ela. Só não é alma, não é destino. É a condição do corpo para eu existir. Será o corpo corpo de si mesmo? Sou apenas corpo? Morrer é apenas deixar o corpo? Serão minhas lágrimas a enterrar meu corpo? Será a lágrima um céu de corpo? O nada é alguém além do corpo. O nada é o limite do tudo. O amor é uma inexistência mais real do que a vida. Apenas o sofrer tem uma vida apenas para si. O sofrer não quer ser lembrado, quer me tornar humana. Ninguém é feliz sem sofrer. O nada é feliz sem sofrer, sem nunca poder ao menos olhar a vida. Não há diferença entre viver e não viver. Na morte não posso me esconder na minha inexistência, não necessito mais. Morrer é essencial, não existir é superficial. Viver é o meio termo entre o essencial e o superficial. O fim precisa de um fim, sem ser ele mesmo. Escrever é inconsciente. Nada me desperta de escrever. Não da para escrever o nada dos meus olhos. O olhar não capta o silêncio. Pela luz esqueço o que existe. Dentro de mim, apenas luz. O fundo da luz são meus olhos. No fundo dos meus olhos, o mar, e uma infinidade de luzes a amar, a dançar na escuridão sem céu. Mar, céu de luz, me faz perceber que não sou só. Sonho tanto com companhia, que não a sinto: sonho o sonho, não é uma companhia, é ser sempre só.