Blog da Liz de Sá Cavalcante

Opor-me à vida

Despedaço meu amanhecer, mas não despedaço a poesia em mim. Almas fogem de si. A poesia, arrancada de mim, não partiu de mim. Ficou impregnada em mim. A vida não vive: sonha em mim. Somos sonhos diferentes, parecemos não sonhar. Sonhar é o ventre infértil de vida. Eu vivi a vida toda, não há mais que viver. Vivo a liberdade de não viver. Vivo pela metade de mim. A inexatidão é a exatidão do nada, ultrapassa o viver como paredes. Sou infinita na morte. A abstinência de sofrer, é alma. Penso no sofrer para não pensar na alma. Penso sem existir. Sufoco-me com minhas lágrimas. Meu pensar impede que eu me comprima em mim. E meu coração deixa-me tão apertada nele, que me sinto solta para pensar. Nada reage ao meu pensar. Deixa meu coração ficar em mim: não me importo. Me divido com meu amor. Punir a permanência, ficando em seu amor. Que permanência? A vida não é eterna. Eterna é a minha vontade de viver. O silêncio sofre sem alma. A alma do silêncio é a solidão de viver. Fugir da solidão, não viver, não é fuga, é desespero que não faz a alma sofrer. Não tenho nem a mim para sofrer. Sofrer é ser livre. A alma não condena a vida. Me condena a vida. Se a vida não fosse insuficiente não seria perfeita, não seria a minha vida. O silêncio cessa o céu num silêncio de céu. Pensar sem cérebro é pensar a vida. Não sei o que é uma pessoa, sei o que é o amor sem o ser: é sem solidão. A solidão faz eu me amar.