A alma me fere profundamente sem a minha solidão. Produzi a alma na minha ausência. Não aceito a alma que nasce de mim. A alma é uma forma feliz de, esquecendo-me, não viver nem no meu esquecimento. A alma não tem necessidade apenas de ausências. Palavras não são ausências é o frio da presença. O tempo é o irremediável do ser. A vida não precisa de tempo nem para ser feliz. Sucumbir, morrer, é amor à vida. Apenas ao morrer, amo a vida. A vida precisa de outras vidas, eu preciso de mim. A morte, realização plena sem perdas. Os beijos falam secos de mim. A liberdade é um sonho. A distância não alcança a morte. Meu corpo no meu corpo não existe: torna a inexistência possível e torna meu corpo possível na morte. Descanso o corpo, não descanso a alma. Descansar não é morrer. Descansar é afastar a ausência tornar o agora possível. O pensar vazio não é nada, nada. É o pensar sem o vazio. A intuição é amor, pensamento, vida. Vida não quer descansar na alma. O silêncio absorve o tempo, é o mesmo descanso: ficar ou morrer. Não ficar e não morrer, é o ser na alma. Morrer, viver, sem alma, é estar só com Deus.