Blog da Liz de Sá Cavalcante

O sempre do fim

O sonho derrete na alma. É este o esplendor do nada. Desperto o nada de mim. A vida não é diferente de mim. Eu sou diferente da vida. O teu mundo não me pertence, não faz parte de mim. Em mim, pertencer é morrer. Eu preciso sentir a morte com o que nunca vou perder: a possibilidade de morrer. Capto o nada pela dor. Sonho a sofrer. Sofrer é sem dor. Sem alma sofro sem mim. O último respirar é minha única alegria, onde não importa as perdas: me fazem respirar, viver. Transcender é morrer. Procuro não sentir a vida no meu corpo, não é alma. Família é vida. Me envolvi com a morte. O falar nada conclui é apenas ausência da alma, que não fala, emite sons desconhecidos como se isso fosse o nascer da presença. O som preenche a alma sem ser presença de nada. O ver desfaz a única presença: o não ver. A distância é a presença de Deus. Eu sinto o nada na presença próxima de depois. Parece que a aparência é o meu ser. Ver não quer dizer que a imagem exista, mas o ver existe. O ver é o sempre do fim. Ver é morrer, é sempre nascer no ver, onde posso me imaginar sendo a minha solidão, sendo a solidão de alguém, onde não morri em paz.