Blog da Liz de Sá Cavalcante

O esplendor do nada

A alma ainda deixou-me metade de mim. Não preciso ser meus fragmentos para amar a alma. Amo a alma, mesmo morta. Dou minha morte para a alma, fico sem nada. A face do espelho é o nada em mim. A alma é a imagem no espelho. Então não sei como sou, não é a minha imagem no espelho. Sei como me sinto, como sou, sem nunca me ver. Ver é abstração do nada na realidade do nada. A realidade do nada me faz viver. Tudo que é será um dia sendo de si mesmo. O nada é a profundidade na distância do nada. Eu vi tua realidade sem alma do nada, como uma alma sem vida. Tudo é essencial para o nada. O nada se vê no nada do outro nada. São tantas lacunas e nenhum nada em mim. O tempo esquece o nada de si por um talvez não seja o nada, mas é. É o nada a razão de tudo. O nada das minhas mãos oferece mais do que vida, oferece amor. A solidão da alma é o corpo, vontade de chorar sem alma, para me sentir por dentro de mim. O sol e a alma são ausências abandonadas. E o céu reza ausências adormecidas. Sem a alma, não há chegadas ou partidas. Vir a alma é deixar-me inerte. O corpo, saindo de mim, é a alma. Os dedos desfazem realidades sem mãos. Vivo dentro de mim. O corpo isola o ser nele mesmo. Não há ser no ser da alma. Fugir dos dedos com minhas mãos para acariciar pensamentos são almas tranquilas. A incompreensão é o amor da alma. A alma sem o esplendor do nada me faz morrer sem o nada: me faz morrer em vão.