O olhar torna a realidade fiel no que sente. Ser fiel à alma é mais do que fidelidade, é devoção à alma. Sem alma, no respirar infinito da alma, morri, mas meu respirar continua no respirar da alma. É por isso que nós, eu e a alma, nos separamos: somos iguais até no respirar. Iguais como o sol e a lua, iguais como sentir e amar, ser e não ser. O céu e o ser se procuram: é como pertencer ao nada. Mas o nada não é uma procura, é um achado. É o meu encontro comigo. Nada em mim falta na vida. Meu ser sente a alma mais do que a alma: isso é fé. Viver é reduzir o infinito a uma simples existência. Não existir é fácil, difícil é existir, em meio a tantos fins. Teu fim não é meu fim. Tudo acreditei sem viver. A vida não é fé, é razão. Dessa razão nasce o amor. Poesia é o nada, é a alma saindo de mim, para sua origem, sua essência: o nada. Não escrevo o nada: me sinto o nada. Tudo existe entre o nada e eu. A presença do nada é ler a alma no interior da alma. Desejo é transcender na falta de alma, como se fosse meu coração a bater. Sopro de luz a resgatar a escuridão são palavras. Na falta de alma, tenho a morte: substitui a alma.