Blog da Liz de Sá Cavalcante

Reacender (reanimar)

A vida é diferente de ser. Ao soletrar a vida, perco as palavras. Não quero a alma para viver, quero para chorar. A alma é sombra da sombra. Nada pode tornar a vida vida. Sinto a morte na pele, não na alma. A morte me diz mais do que a alma, então ela me silencia em sua fala, sem um suspiro, um adeus. Prefiro que ela me deixe em sua fala, onde não tenho que escutar a vida, o meu silêncio. O silêncio não me faz ter alma: não me faz ser eu. Eu sou o silêncio do silêncio: na voz, em todas as palavras. Reacender o silêncio na alma, quem sabe assim me animo também? Encontrei o inencontrável do meu ser. O nada nasce do ser. Nascer é adeus à alma. Nascer é incorporar o nada de mim, sem a vida. Fiquei só na alma. Alma para que me escutou sem o nada? A escuta, estagna a alma. A alma estagna no silêncio profundo, sem a profundidade do silêncio. O silêncio não ama: mas se deixa amar. Não ter alma é tolerar o amor. Reacendo a morte no meu amor, por culpa de não morrer. Não morrer é não ter alma. Fiz do amor uma oração para fugir do mundo.