A vida esquece de ser vida, sendo vida. A vida é a minha coragem. Pela vida, não tenho medo de morrer: quero viver com o sol a se decompor com uma folha caída da árvore. Vivo o necessário para ser feliz, numa alma desbotada: nunca terei a cor do universo. E se o universo não tem cor, qual será a referência do meu olhar? Como conseguir ver as coisas apenas pelo olhar? De que é feito o olhar que não vê? De outra essência, de outra vida? Não sei o que é o amor na vida. É diferente amar do amor. A adoração da alma se mistura com a minha morte para nascer meu ser. O eco da sombra é a minha voz de vida, a sacudir meu silêncio em um amanhecer assustador, de tanta vida. Tem alguma vida para mim? Deve ter algo exterior, distante do sol, da esperança. A minha tristeza, talvez? A miséria de alma me enche de vida. O interior tem que significar algo para si, para bem longe do interior. O interior é acordar para a vida. O despertar é tudo que tenho. A vida é a falta de respirar. Respirar é ausência. Lembrança, falta de reação à vida. Lembrança não é recolhimento, é liberdade. A liberdade do corpo é inútil à minha alma. Sem liberdade sou livre, como um gritar em silêncio. A alma perdeu mais do que eu em ser livre. Livre é a clausura da alma, não consegue imaginar uma rosa, um cheiro da lembrança que criou dentro de si para o mundo. Eu sonho sem mãos, por isso, meus sonhos são livres na mão do nada, que segurou as minhas mãos como se fossem poesia. As mãos das poesias isentas do nada, segura as mãos do nada, como quem prende a vida. Parece ter algo nas mãos: o nada. E, assim, esquece o contato humano. As mãos sentem minha ausência comigo a escrever. Escrever é um suspiro das mãos. Esqueci o nada na minha morte. A morte não compreende a falta do nada. Eu sinto o nada na falta de mim. Não há falta na falta. Eu sou a falta da falta. A lembrança é a falta do nada no nascer do nada. O fim é amor. O amor pelo fim não é amor.