A alma nasce no tormento, se realiza em sua inessência, por onde o ver da vida se vê. Reconheço o fim no ver da vida. A falta de lembrança é sem intuição, a intuição é a vida. A vida é a permanência do adeus. Adeus que é hoje, amanhã e sempre. No dia da morte, morrerei no sempre: única realidade possível de se morrer, sem a tristeza de falar algo para mim em mim. O que poderia dizer a mim? Nada há para dizer a mim. Mesmo assim, lembro de mim. Ver é inessencial à alma, como uma vela que queima sem sentir. Eu não lembro o que queima, mas me sinto incendiar. O inessencial é mais visível que a alma, o corpo se esconde na alma. O agora vem da falta do corpo, não em mim, mas na alma. O suspiro do corpo é a alma. Meu suspiro é um fantasma a vagar na minha tristeza, me conhece melhor do que eu. E eu conheço tanto meu suspirar que morri por ele. Me tornei o imperceptível do céu em cada carência de estrelas, que sacode o céu em conversas sem palavras sem fala, apenas fico com a permanência do que sinto. E, assim, a permanência é intimidade sem palavras.