O nada na solidão do tudo em mim me faz amar sem amar. A solidão é se contentar com qualquer amor, até mesmo imperceptível! Será que o que não se percebe existe? Existir é apenas perceber? O que não existe vive! Nada vai mudar o imperceptível, ele é como a chuva que cai sem pensar nas gotas de água, que precisa ter para haver chuva. A chuva é imperceptibilidade da vida, é a falta de acesso ao viver!
É pela falta de realidade que sei o que é viver! Deus, tenha misericórdia da minha alma, que não consegue ser alma, mas consegue amar, ser feliz, como se meu corpo não tivesse sombra. A sombra é onde meu corpo se esconde. Se a sombra fosse meu corpo, seria mais corpo do que o meu corpo?! Formar a vida não é criar a vida. Para criar a vida, tenho que renunciar meu sentimento de viver, que não é o mesmo que viver! A solidão aconchega a alma, num amor infinito, por causa do seu fim! O fim é infinito, está nos meus sonhos, na vida, em mim, no meu amor! Se a ausência é a única realidade, amo a ausência, me preencho com ela. O que se perde em amar é cheio de ausências, respiro e engulo a seco minha ausência, que é o silenciar depois de amar!
Mas o depois de amar também é ausência! Nascer é uma ausência que se perde, como se fosse infinito! Por isso, deixo o nascer morrer em mim, antes mesmo de eu nascer! Nada precisa nascer nem morrer, preciso apenas ficar só, no que sou, ao tomar conta dos meus pensamentos, como, se um dia, eu fosse nascer, pelo amor do meu pensamento. Sem o amor do meu pensamento, não sei amar, estou incompleta, mesmo plena de amor. Meu amor não me trará minha poesia para mim, ela pertence à minha ausência!
Talvez, não tenha ausência na ausência. Talvez, não estou ausente, e, sim, feliz por ser eu, que criei a poesia em mim. Nem mesmo a ausência me impediu de criar. Poesia, não existo, sou a vida da poesia, ela me sente nascer o tempo todo, de dor, de alegrias! Mesmo que eu nunca nasça, exista, sou a presença eterna da poesia! Não precisamos nascer, existir, temos uma à outra, onde, agora, existe amor!