Para escapar do nada, tenho que ser eu, me pertencer. Vou me deixar na ausência do pensar, que me faz reagir ao meu ser: me faz pensar, diluindo as lágrimas na saliva. As lágrimas na saliva. As lágrimas pousam no meu adeus: que é o meu coração que não vive, faz viver, no pertencimento do esquecimento é pior do que morrer. Por mais que o partir seja uma presença é presença solitária. Faço-me presença na solidão. Eu, sou eu, só. Guardei a minha morte dentro de mim, como se fosse minha alma. A alma torna o eterno real. Nada do que sinto é meu, é da alma. A alma é a desrazão da vida. Não posso ficar na alma para sempre: há amor mais verdadeiro que o da alma. Eu não percebo o perceber da alma e, assim, percebo a alma por mim. Percebo que meu perceber é mais do que alma, é vida. Eu achava que tudo fosse vida. Escrever é um novo mundo. A falta do mundo é o fim da saudade de ser. A escrita me escreve, eu escrevo a escrita, assim, vamos dançando no vazio, até tropeçarmos em nossa dor. Corpos soltos, sem dor, dançam a dor do amor. Ao dançar, é como se meu corpo não existisse. Sinto sua invisibilidade na minha existência. A invisibilidade é o olhar: conquista o mundo sem vê-lo. Vejo pela alma. O mundo é o passado, a vida é essência do mundo. O que falta a alma na sua essência é alma. Confiar são restos do amanhecer. O ser é um perfume, deixa a alma sem cheiro, cor, vida. O fim é o interior do interior. A falta do interior é o mundo que é o interior do nada.