Sou minha sombra. Sou o delírio da minha sombra. A dor de esquecer cessa a sombra: não me torna eu. A vida não me deixa ser no meu esquecimento. Queria esquecer que um dia senti algo. Não me sinto anestesiada, me sinto viva por nada sentir. Não sinto que essa dor é minha. Sou o refluxo da vida. Tudo fica dentro de mim, em refluxo. O ser da alma não é o meu ser. Não perceber é ver. Ver é o infinito sem mim. A ausência é a interioridade: foi encontrada em não viver. Nada é real no ser: o ser é real numa solidão irreal. Minha defesa é o meu interior: explica por que vivo. Nada me diz o silêncio da alma: sua inexistência existe como vida, na maciez das palavras que multiplicam o tempo sem eternidade. Ver o tempo crescer, evoluir, é eternidade da alma, não do tempo. Por isso, acredito na eternidade da alegria ao morrer. A alma me faz feliz. Estar unida a ela é um privilégio mesmo sendo para eu morrer: minha admiração por mim, pelo meu amor extremado, começa pela alma. Não termina na alma, mas em mim.