Mergulho na saliva da palavra. A morte é sem palavras, para um entendimento eterno. O dia não pode clarear a morte. Eu posso ser luz para a morte, ressuscitando o céu no nada de mim. Nada pode substituir o céu, nem mesmo o sonho. O sono é ver o céu como fim. Não ser não é o céu. O existir de cada um constrói o céu. Não há existência na vida, há existência no céu. A dor abstrata é aparência do possível no nada do rosto: é no nada que contemplo o nada do meu rosto, sem saber qual nada eu vejo. Eu percebo o nada não pela aparência dele, mas pela minha aparência nele. Às vezes penso amar o nada: é apenas o sol a se levantar mais cedo. Reconhecimento é sofrer. Não tenho corpo, alma, tenho pele que me esconde das minhas inexistências, do frio da minha morte: é a pele da poesia que se faz não existir, para que eu tenha corpo, alma, ao menos na pele da poesia.