Blog da Liz de Sá Cavalcante

O revigorar da falta

O tempo de sonhar é o meu corpo, no revigorar da falta ao menos meu corpo é eterno em mim, na falta de mim. A falta é um corpo sem o ser. O ser se impõe ao morrer. A voz beira a consciência. Manter a vida na consciência é difícil. O silêncio sorvendo as palavras envolve a vida, protege a paz. Prefiro a paz de morrer. Morrer é falar infinitamente. Sou igual a mim, quando falo, amo. O ser não tem natureza do ser. A mim, posso esquecer: o esquecer é apenas a minha sombra: não sou eu. Poderia entrar dentro da minha sombra, no meu não eu. Mas teria que sonhar comigo. Sonhar é fácil, parar de sonhar é difícil, raro. Tudo é sonho. O sonho beija a poesia, e a poesia deixa-se levar pelo sonho. A tristeza é um sonho. Tudo começa no fim. O olhar começa a ter um mundo próprio: longe da minha solidão, do meu olhar, que não consegue ser só. Enfrentei a realidade sem me ver. Ver é tudo que sou. Ver é saudade que passa: no abandono. Abandonar-me: me dando ao céu. Se o céu adivinha meu sofrer: em amar. Sofro sem o céu, as estrelas, vivendo em poesia. O céu, as estrelas, não podem viver. As palavras ressoam a morte em estrelas, que escapam do tempo, na luz do amanhecer. Foi assim que o silêncio se tornou paz. A paz que morreu abraçada comigo na minha paz.