A vida é apenas a mobilização por abandono. Deslocar a alma na alma, como razão de ser, quando o ser escapa, a alma age por si mesma. Não quero economizar a alma em mim. Sei de mim até sem alma. A alma não vive de alma. A alma é possível, como um morrer na culpa de morrer, e não poder mais amar, ser amada. Ao menos não esqueço quem amo, sofro, pois não é igual a esquecer de mim. Esquecer é ver pelo amor do outro. Percebo-me morrendo como se eu não pudesse me imaginar viver. Morri até no imaginar. Há um limite entre o céu e o mundo: esse limite é o ser. O ser não é mundo, não é céu: é a perda do mundo e do céu. Bobagem tem importância. Beijos do céu voam no mundo. O ser não se mostra como meu ser, sendo para mim o que sou. O que posso ser para meu ser? Nada, fico feliz longe, sem o meu ser, a pensar por mim, amar por mim, roubando meu ar. O ar seria meu no meu adeus. Mas nada quero recuperar com a morte. Necessito morrer na pureza da vida. Vi o não ver em mim, no meu amor. Dormir apaga a ausência do pensamento e do amor.