A escrita é visível sem o ser, como se roubasse minha aparência na aparência da vida! A aparência da vida não merece ser escrita, nem descrita! A vida é a ausência da escrita, da poesia! A poesia é escrita na alma! Nem a escrita nem a alma estão só na minha ausência de ser. Para isto existe poesia: para salvar e ser salva! O olhar escreve melhor sendo a poesia que falta na poesia! Carrego o amor da minha poesia em ti, que é a afeição do meu ser! Nada mais ousou estar em mim, sem a minha aflição para me aceitar. É preciso aceitar minha dor! Eu jamais recuperei minha emoção de escrever. Me emociono de escrever sem estar escrevendo. Escrevo mesmo sem escrever: está tudo em mim! Posso parar de lembrar, mas de sentir, de escrever, jamais! O fim da poesia é a palavra ou é o meu ser?! Escondo as palavras do meu sentir, para que elas sejam apenas poesia, sem a interferência do sentir ou do meu ser! Não importa que palavra fez a vida, mas, no fundo, a única palavra que falta na humanidade é amor. Amar é poder se declarar sempre, quanto mais amo, mais digo “te amo”! Mas o que perdi podia ter sido amor! Mas amor não se perde em amar a quem me ama! Mas, se não ama, paciência. Paciência com os que amam e são felizes! Não pergunto sobre a escrita ou a vida, me pergunto como me recuperar de um amor somente meu! Se o outro não me ama, não posso amá-lo, desejo que seja feliz sem o meu amor! O amor tem a vida que merece! A dor une e separa, mas quem ama se une eternamente, num amor, não acaba com a morte! Só o amor vence tudo, junto a alguém o amor é mais prazeroso, fiel! A linguagem da morte é irreal, mas é a verdade, a essência de todo falar, de todo silêncio! A morte interage com a realidade, me tornando realidade eterna. Eu sacrifiquei a realidade por mim! Falar não é viver! Sinto ao falar, que expuseram meu vazio, única voz real por dentro de mim. Não importa se não há nenhum detalhe na voz, sinto minha voz no silêncio do meu vazio, por onde converso com a vida sem a voz de antes: cheias de mim! Mas a voz desapareceu, antes de se tornar minha voz, mesmo assim tenho esse murmurar, como resposta do silêncio à minha própria voz, que lhe responde sem o silêncio! Talvez, a voz se impôs no que sou, ela determina quem sou. Não sei se é a vida ou a escrita que amo, mas algo tenho a que me apegar. O vazio é uma estrela que brilha no infinito do meu ser, apenas para mim ele brilha mais do que o sol, cria o amor! A ignorância do amor é perder o vazio de si mesmo! O amor é o vazio, mas não se sente vazio! Sem o vazio, não há amor! Não há destruição sem o amor! Esqueço a vida num amor solitário. Encontrei amor no irreal! Escondo o preenchimento da vida, do amor, mas o amor vazio é tão feliz, nada lhe falta, pois, no fundo, a alegria é vazia! O vazio é permanência! Me preenchi de amor na ausência de respirar, é como se respirar me deixasse vazia! Existir me deixa sem respirar, ou será que sinto a solidão de respirar, de estar viva?! A alma está no tempo que partiu! Não sinto falta do passado, e sim da alma! Por que o agora não acolhe a alma?! Para o agora, não existe passado, nem alma, existe apenas esse agora, sem passado, futuro, apenas a alma! Até o passado se foi na alma, para onde não sei, tudo vive sem o passado, é como se a vida começasse agora, que o instante se foi pela permanência do passado, que é a perda do passado! Não perco mais o passado, mas já o perdi pra vida! A dureza da vida é alegria, a leveza da vida é triste, como se não houvesse vida para o meu amor! A vida é feita de outra vida. A vida é o amor que sinto. Tudo é impossível para a vida, somente é possível à morte! O que é que eu não faço por amor? As coisas não existem na vida, eu fazia tudo pelas coisas, mas nada fiz pela vida! Minha energia está em morrer, não há energia sem morrer! Não dá tempo em viver, já realizo tudo em morrer!