Blog da Liz de Sá Cavalcante

Como amo a falta de alma?

Amo a falta de alma, como se fosse alma. Amo minha falta de alma, como se te visse sorrir. Deixei a ausência me consolar sem eu sofrer. Ela me consola, distante da minha alma. É por isto que existo: pela alma que não tenho. A falta de alma é ausência de ausência, é a permanência de tudo. Não dá para isolar a alma da ausência. A falta é a ausência do nada, numa presença eterna. Tenho que me ver pelos meus olhos, sem o sentimento do que não vi, não percebi, e é como se não existisse. Respirar me preenche da solidão. Só, se esquece a solidão noutra solidão, onde a solidão é apenas sonho. Me acostumei que o amor é uma falta, que se preenche com o ser, se preenche não para deixar de ser falta, mas se preenche para ser o meu ser, a falta do amor. Na falta de amor, nada me falta, nem mesmo o morrer.