A dor é pela dor, estar na dor não refaz a dor em meu ser. O amor isola o ser no seu amor, ele esquece de viver amando. Esse esquecer é o próprio amor! A dor me lembra sem mim, para que eu sofra em mim o que não consigo sofrer sem mim. A dor não tem necessidade de motivo para sofrer, nem a dor é motivo para sofrer. Dor é ter a vida tão perto, que sofro. Apenas a vida. Estando perto, sinto a distância da vida, como uma maneira de não sofrer. A distância afasta a morte da morte, jamais do ser. A morte não se fez morte, estava lá como morte, assim como o sol está como dia. Irradiar a morte em luz, sem precisar da escuridão, é deixar de morrer. Escrever não faz da morte o que ela foi um dia: inspiração da alma. A paisagem, desaparecendo num deserto de sol, modifica o tempo, sem precisar morrer. O que tiver sido a morte será como se a paisagem pudesse morrer. A paisagem é a morte personificada. Não sei o que fazer da vida, mas há o que fazer pela morte. A morte é uma paisagem sem mim, que se perde no infinito dos meus olhos, para eu ver as coisas como são. O indefinido não é mais indefinido, é definido, sem perder a vida, o amor, que não é só morte, adeus. Uma tempestade de lágrimas rompe o instante de morrer. Morrer é uma paisagem dentro da paisagem, onde tudo é eterno, basta olhar para minha solidão, para perceber que nada se perde, tudo é eternidade de ser.