Blog da Liz de Sá Cavalcante

Inalcançável

Vou cessar a consciência no amor encerrado. Não dei um fim ao amor. O amor é o fim. Deixo o amor no amor para ficar comigo. O amor é distante de si e nada lembra do amor. É como um mar sem lágrimas. Nem tudo está perdido: há o silêncio. Mesmo sem o silêncio, é uma paz sem vida. A morte é uma calma que devolve o mar ao sol. Nada é o que é. Eu sorri, desesperada, para sentir uma alegria que já sinto. Sentir não é uma verdade, é apenas um fato. Nada repousa no infinito, nem morre no infinito. A morte não alimenta a alma que não tem força para morrer. Se entrega ao nada, sem mim, em mim. A morte é uma imagem. Essa imagem nunca será alma. Ela é mais que alma, é aflição, desespero que não há na morte. Não preciso me acostumar à imagem da morte sem deixar de olhá-la, admirá-la. Sonho mortes que já me pertencem. Me vi morta no espelho. Lágrimas que prendem a alma na sua falta de imagens. Vou ter alma sem ter uma imagem. Sabe a alma que não posso lhe oferecer uma imagem. A imagem nunca seria minha e da alma; é apenas esquecimento.