Blog da Liz de Sá Cavalcante

O tempo como abismo

A linguagem é a incompreensão do ser, e assim nasce o vazio. Pelas palavras que amo, sinto o gosto da vida. Palavras têm a cor da vida. A cor se desbota em poesias. As cinzas das palavras são palavras. A palavra é o meu limite de ser. Não sou apenas eu. Me transformo em ar, submissão, agonia, vento. Não posso me transformar no que não sou. Ser nunca se transforma em ser. Há cores que encardem a alma. A alma foge em flores de areia a despedaçar o céu de amor. Ir vivendo nada, sendo em vida, é como amar uma sensação perdida, que não posso sentir de novo. Tudo é uma única vez, nada se repete. A vida sou eu me repetindo. O tempo como abismo é o meu olhar que dança no abismo de ser. Eu refiz a alma em algo estranho. Não presenciei o nada no nada, e sim em mim. A vida não me conhece e deságua a alma na exatidão do sentir.