Blog da Liz de Sá Cavalcante

O sono da ausência

O sono da ausência é a presença que dorme como uma ausência. O sono acorda sem ausência, numa presença absoluta de perdas. Perdas são ganhos na alma. A presença, ausência de alma, na presença da alma. A alma volta para onde? Não sei onde está a alma. O amor nasce antes do nascer. Pensar é um nascer passivo. Nascer nada pode fazer por mim. Eu fui o nascer do nascer para ser poesia. Nada no agir é nascer. O dormir é Deus a nascer em mim. Ao despertar, estou plena de Deus para encarar a vida. Vivo em Deus. A morte, única ausência maravilhosa. Escrever é um sono sem eternidade. O demônio do partir sorrindo, sem dormir, sem despertar, tudo é apenas silêncio, no nada da solidão. O silêncio sem a vida é ter o amor tranquilo numa morte inquieta como o céu. O silêncio é morte, que se vê o chorar eterno, se joga no fim da eternidade, como o depois de amanhã. Eu amo mais a falta que faz a eternidade do que a eternidade. Não idealizo a eternidade, ela é a razão das minhas perdas, dos meus sonhos, da minha vida.