Preciso de tempo para a alma, para senti-la em solidão. A sensibilidade do adeus é o olhar que dá corpo à alma. O corpo da alma é o olhar. Não tenho um corpo, por isso sou um ser. Vou dormir ao morrer. Nada se dorme em vão. A ausência é uma canção toda minha. Posso mudar a melodia, nunca a essência. O corpo da alma perde-se em outro ser, a perda é apenas expectativas que se aprofundam ao morrer. Recomeçar sem alma é como ser o sol pra vida. Recomeçar sem alma para unir pedaços é perder o céu no céu. A distância do céu é a alma. Vou ser teu despertar, alma, quando tudo for vazio, ausente, e terá a si mesma. O corpo da alma é minha maneira de permanecer. Permanência é apenas um corpo desabitado. Realizo-me no nada. O desaparecer da ausência é uma perda irreparável. O corpo é sem perdas, sem ausências. Não morrer é me impregnar no meu corpo, sem me enclausurar. Prisões de liberdade são as piores. O olhar torna a liberdade um nada para o ser, e liberdade para a liberdade. Eu sofro livre. A solidão é um ser. A alma não tem o direito de me possuir, sugando-me para não me ter. Tive mais do que alma, tive a mim. Dei alma à minha voz. O silêncio sem alma é escutar o amor na alma. O ar pairando no ar como tempestade de lágrimas, dentro do mundo do meu olhar. Quem vê por dentro das minhas lágrimas? Dentro da minha lágrima, a minha morte. Mas minhas lágrimas são de vida.