Teu corpo pesa na minha alma, a tua solidão pesa se não for minha solidão também. A ternura do nada pousa em mim, como se pudesse ser a falta de mim. Como sinto falta da falta de mim. A vida permanece sem lembranças: plenitude de viver. As lembranças são tristes como respirar. Nada pode ir além da realidade. Sonhar é respirar. Há ausências feitas de sol e sonhos, há ausências que são apenas presenças. A presença cessa sem a vida ter partido. A vida não é presença, é tudo que me falta. O que possuo é sem vida: é a esperança. Dormir, presença infinita que me faz morrer. Dormir é uma ausência superior à presença, está inteira em mim. Em mim, meu ser é incompleto sendo completo. A vida da vida é a renúncia de mim, que fica na margem da saudade, onde descanso minha tristeza, como uma poesia, onde sei que ainda posso ser feliz, como se tivesse esquecido de mim, numa alegria desconhecida. Chamo-a de viver. Longe do corpo, da alma, para sentir melhor a vida, não partir com ela. Hoje tenho uma nova vida, longe do meu corpo, da minha alma. Existo como vida da vida, percebo que preciso de pouco para viver, não preciso do meu corpo, da minha alma, necessito apenas do amor da vida, sentir a vida, não preciso nem mesmo viver!