Blog da Liz de Sá Cavalcante

Relação de ausências

Apenas a morte se relaciona sem ausências. O mundo sem ausências não é mundo. Corrói a vida, os ossos do mundo, para que eu me quebre sem ossos. O infinito de perder o céu sem se perder no céu, é o meu ser. Morte e vida é o mesmo esquecer, é a mesma perda que entra dentro de mim, como um ser dentro de outro ser. Sem alma, vivo, resplandeço em mim. A ausência é não olhar para trás, sem se arrepender de quem é. Ser algo é ausência. Ser algo é pertencer à ausência. Agonia é um olhar que vem da alma. O desaparecer é ausência de alma. Não há alma na alma, mesmo assim é alma. A alma é mais que o infinito. Sou a sombra da alma. Se a alma fosse o olhar do infinito, a vida existiria pela alma. Mas a alma é a cegueira do infinito. O infinito expande a vida: é um pedaço do céu. Não se pode desaprender a ser céu. O céu sempre foi céu, não se tornou céu. O sempre do céu é seu fim. Não há relação de ausência, há relação de céu, de palavras.