A lembrança do depois fez nascer o hoje. Lembrar não é sentir. A vida é a perda de mim, que se vê de longe, está tão perto da perda, que não vou mais me sufocar, buscando o mesmo ar. É doloroso não partir em meus sonhos, sofridos. Tão sofrido que despertei para a vida. O passado, o futuro, o agora é uma forma de me sentir. Sentir é ter que cair das escadas da vida, para não enlouquecer. O pesadelo são os meus pensamentos. Compreende a sua tristeza, quero que aceite as minhas. O sol não concebe só. O que se adivinha não acontece. Mas não é imaginação, é vazio. Mas não é o vazio da alma, é o vazio interior. Quando eu movimento o que sinto, piora o vazio. Enternecer a vida. O vazio constrói a fala. O sonho é o vazio da alma. Olho para a morte, nada vejo. A morte é o que consigo ver sem mim, é o mesmo que me ver em mim. Não enfrento a morte, ela se enfrenta sozinha. A vida não me deixou escolha: é morrer ou morrer. Minhas mãos escapam como céu. Morrer não me deixa chorar pelo que não existe. É difícil amar sem pensar na morte, no céu, que me fez amar. E amar a vida. Tormentos são amor. Longe é o amor real? Tão real que morri sem ele? Procurar a vida é inútil, morrer não é inútil: é sentir falta do que não existe, alimentar minha saudade com vida, ou vidas, se possível.