O desencanto encanta o sofrer. Viver em pele de ausência me faz viver no inesgotável de mim. A força da ausência sou eu. Eu cultivei ausências, onde antes era deserto. A ausência se divide em ser, como o sol se divide em lua. Como chegar à alma? Pela minha ausência que sussurra, sussurra dentro de mim, como se estivesse perdida em mim. Não, eu a encontrei caída, abandonada como o mar da saudade, cuidei dela com minha própria vida. Não preencho a alma. A alma não me preenche, apenas esquece do céu das estrelas, tão sonhado por Deus. Eu não sonho como Deus sonha. Não deveria eu preencher minha alma? O outro já preencheu a minha alma por mim. Falar é morrer. Morrer é o fim da ausência. A ausência não sente o fim de morrer. O fim da morte, que não se oculta no esconder da vida. Estou mudando de ausência, sofro mais com a ausência do outro do que com a minha. A ausência é curta, breve não se pode ser ausente sempre. Nenhum ser está na vida, está no nada de si, é melhor do que a vida. Vejo o céu no nada absoluto. A vida é a perda irreparável do nada. O nada é a lua em um abraço, sem precisar amanhecer, como o mar que se deita no sol.