A morte tem um fim: se eu sentir falta de mim ao morrer. O fato de eu não estar em mim, não me impede de ser eu no inexistente, que não é o meu ser. A vida, a amo num silêncio sem alma, sem amor. Apenas o silêncio que leva a vida embora, não se curva ao nada. Justiça é o nada. Não há nada que justifique a vida, nem mesmo a humanidade, nem mesmo a poesia, nem mesmo o amor. Por isso, tudo é livre, solto, como uma realidade de amor. Nada transmite ao céu, à poesia, que eu morri. A poesia pensa que a abandonei. Minha única força é não escrever. Escrever é uma força incomum, divina. Como ser tão forte, ao ponto de desaparecer sem mim? Esse é o único desaparecer de mim mesma: eu. Eu sou meu desaparecer. Por isso, não preciso desaparecer. Desaparecer é amor. Mas o desaparecer não reflete em mim como amor. Sonhar é o amor absoluto, é enternecer no vazio sem fim de palavras, as palavras são o pior vazio. Nada de palavras na alma, a alma é plena até na falta de si mesma. Quanto tempo tenho na alma? Meu eu é o tempo infinito, para que escondê-lo da alma? Meu tempo é infinito, mas não é bom, não consigo vivê-lo em sua propriedade, mas sinto o tempo como perda. Remendo minhas perdas no teu sorrir. Sorrir nunca é o bastante. É preciso amor.