O mundo não se mostra para mim. O mundo não está dentro de mim. Mas estou dentro do mundo, onde não devia estar. Dentro do mundo, é perder o meu interior para o mundo. Por que a poesia não pode ser o meu interior? Não tive lembranças, tive poesia. A poesia preenche a falta com suas lembranças. Vivo das lembranças da poesia. Nada serei dentro da alma. Se a alma é uma ilusão, o que é isso dentro da alma a me contorcer, me fazer saindo de mim, pelo contorcer do meu corpo, no sonho de outro alguém. A consciência descansa no meu amor, pelo cansaço de ter que lidar com o existir do meu corpo. O cansaço do meu corpo, da minha alma, não é o mesmo cansaço de existir. Deixo o corpo e a alma abandonados, pela falta de cansaço, de paz. O silêncio não é todo meu corpo. Consegui ter um corpo sem alma, isso não é defeito, é qualidade, virtude do nada. O que me falta, possuo. Não me impeça de amar. Amor é para sempre amor, mas, às vezes, é apenas saudade. Deixa o espaço aberto, para mim, ao menos em te ver. Não quero te compreender, quero te amar, recuperar ao menos a perda, pois até isso a gente perdeu. Nada se perde em perder. O sonho é a perda inesquecível de amor.