Seja eu em mim, mas não seja por mim o que não sou. Não é essencial à vida que eu seja feliz, mas é essencial à vida que minhas atitudes sejam de amor. Sentir amor é me sentir viva, enaltecer o nada, na ausência de vida. Ser em mim é a minha eternidade. Não há oração para a vida, como há para o amor. A alma sente a perda da morte, como se pudesse voltar ao meu amor. Amar é a distância de mim. Quando eu me aproximar de mim, deixarei de amar? A alma não me faz me amar, mas também não cessa o amor em mim. Não posso transformar a alma em dor, então me conformo de ser amor. Escondo minha imagem dentro da imagem da morte. Agora, nem morrendo me vejo. Não consigo continuar sem me ver, sem olhar para minha dor, sem nada saber. Não sei o que procuro sem saber, sem a imagem de mim. Para amar, é preciso uma imagem?! Desaguando em imagens de sonho, vejo meus olhos boiarem sem a minha imagem. A imagem é linda e triste, mas não é como eu, que me dilacero de tristeza, como se eu tivesse uma imagem para morrer. A imagem é como o sono de morrer. A morte desperta na imagem do nada. Dá vida à vida. Esqueço que, talvez, algum dia, tive uma imagem. Quero apenas desaparecer no vento, sem compromisso de morrer. Quero que o vento seja mais leve do que a imagem de mim. Não tenho imagem, nem mesmo dura, de pedra. Construí pedras no lugar da minha imagem, fiz um muro, para proteger o amor do resto do mundo. Assim, a imagem se refez, sem precisar de mim, sem mim. Eu não acredito que deixei minhas esperanças de viver, numa imagem que nunca foi minha. Mas sou eu essa imagem que me fez morrer. Morri sem olhar para a morte, foi quando finalmente me vi, como pessoa, como eu, apenas para morrer. Ao menos, na morte, tive uma imagem, que a vida nunca me deu. Vivi em vão, infeliz, sem imagem, mas morri feliz, como se sempre tivesse tido uma imagem para morrer.