Quem sou eu? Não sei, sei que algo necessita existir na tua ausência, mesmo que não seja eu, já é alguma coisa. Vivo entre intervalos de vida e de morte. Sofri sem o silêncio da morte, nunca me recuperei, nem mesmo em palavras, me retirei da morte para o nada. Quantas coisas inesquecíveis, profundas, o nada disse e eu quero apenas o silêncio da morte na minha morte. Eu morri, a morte está viva, tem algo a me dizer. Se ela disser, vai morrer. Mas já sei o que ela iria dizer: que me ama. Foi assim que matei a morte, que comecei a dizer: vida. Foi como amanhecer eternamente, não por mim, pela vida que desconhecia. Agora, pertenço à vida, mas ainda me refugio na morte para ser triste. É como um amor que precisa de cor, a única que tenho é essa tristeza, que não deixa a vida sem cor, brilho. Estou só, como uma luz que não se apaga, que encontrou quem a veja, por isso, é só. Minha luz te escurece. E você, inexorável de alegria, mostrou que sempre serei só. Mas meus sonhos me tornam tão só, melhor morrer como se tivesse o seu amor, ou vou dormir por sofrer em não morrer? Morrer é apenas uma capa, uma casca, esconde quem sou. Tarde demais, a vida não notou minha presença na morte. Mas eu notei sua presença em mim.