O nada não se desfaz só. Ele se aproxima, permanece, sem morrer. Morrer é permanência. Nada restou da permanência, ela agora, lembrança que faz durar a impermanência, como um sol de poesia. Na morte, a negação não é concreta. A negação concreta é a possibilidade de viver. Não há concretude, não há vida, não há negação. Não vivo para substituir a realidade. Não preciso de realidade para ser. O que é negado como ausência é ausência eterna. O tempo substitui a ausência. A vida é a ausência do ser. O céu é a ausência de solidão. Vivo sem nada acrescentar ao ser da minha vida, não é o mesmo ser da vida. O ser da vida nasce da vida. A evolução do nada me faz ser eu para o nada. O nada do arrepender é quando o nada é o que é pelo seu passado. No fundo espero a morte para concretizar a morte dos meus sonhos. Sonhar é o desafio da alma. Para haver mortes, o ser tem que estar separado do nada. A ausência não penetra no nada. Nada sinto por mim, sinto pelos outros. A morte se vê nos outros: esse é o seu fim.