O nada, para mim, é a minha alegria, que pode ser nada, por isso é feliz, me faz feliz. Há mais alma na falta de alma, do que na alma. A reconciliação do nada com a alma é o vazio. No ser, a alma inexiste, como ilusão, onde a vida existe. Nada me falta no nada, o tudo é o verdadeiro nada, o nada é o tudo. Reconheço o nada pelo meu respirar. O nada é o ar que respiro. Não há aprisionamento que me liberte de ser, de viver. O que é o nada sem o ser que o satisfaz? Tudo se compreende no nada, único valor do ser. O nada tem alma, plena de vida. O ser jamais terá essa alma, de tudo não precisar. Não necessitar cessa o amor? Ou amar é nada necessitar, nada ser, por dentro de mim, para me igualar ao nada do mundo? Que mundo seria esse, se o nada não tomasse conta dele, tornando o mundo melhor do que o nada? O nada, oportunidade eterna de viver, como se estivesse sempre disponível dentro de mim, que até duvido de viver, que essa oportunidade de viver é o nada, que me faz feliz. Não há o nada na eternidade, por isso ela é só triste. O nada não é a razão de sua dor. O nada não tem o poder de tornar algo ou alguém triste. A separação do nada com o ser é o fim do amor, que nem começou a existir. Somente no nada existia amor, o nada deixou de existir, como se vivesse algo além da eternidade, além da vida, do amor: o nada, que não cessa, pra sempre nada, nas maiores dificuldades, não deixou de ser nada, nem perdeu sua essência. O nada não sabe que é nada, emprestou sua beleza, seu amor, ao sol, à vida, onde não há retorno do nada, mas a paz do nada está em mim, e é tudo que ficou do nada: a paz, para reconhecer a falta de vida na presença da ausência. O sol vai existir para o nada, que não existe na vida, na morte: é apenas a minha paz, sem alma. Um dia, saberei te encontrar, seremos dois nadas perdidos na vida, para encontrar o mundo como ele é: mas encontrei o sol, dentro de mim. Assim, me desfiz do mundo em mim. Para mim, basta haver sol.