Se eu pudesse partir o que se foi ao meio, para nunca mais voltar. Minha alma é um véu de contemplação. Minha alma esconde a realidade do mar, da vida, das estrelas, mas não pode escondê-la de mim. A alma derrama o mar nos corredores do fim. O amor sente falta da vida para preencher seu fim. Sentir não é conseguir nada. Consigo com o meu amor, que não consegue me perder. Sempre amanhece para quem é só, amanhece pelo sonho de uma poesia. Meu olhar é o amanhecer mais puro que Deus me deu, onde amanhecer é apenas o horizonte nas margens do meu ser. As lembranças são solidões que não duram no ser. Permanecer é deixar as margens da vida morrerem na minha permanência. Minha permanência parece um adeus inesgotável. Sei pouco sobre permanecer, por isso, permaneço. Permanência, quero sua proteção para morrer por ti. Antes não existia morte, por isso nasceu o vazio. O vazio nasceu sem erros, de corpo e alma, me tirou a vida, me deu o céu, que era só antes de mim, dos meus sonhos, do meu adeus. Tudo era só antes de Deus, até o céu é só sem Deus. Me fiz só em Deus. Deus me quer só? Nunca amanhece nem pela solidão. É preciso acreditar na força do amanhecer. Nada pode ser eu quando amanhece, nem mesmo posso ser eu. Eu dentro de um ser inexistente, chamo-o de ser eu. A insistência com que chamo o nada é a minha voz sem se enfraquecer de alma. O que enfraquece a alma é a falta do nada, de viver. Me incomoda que exista o não viver, sem morte, sem sofrer. Gratidão é não sofrer, não odiar, morrer apenas de gratidão é conseguir chorar minhas perdas com amor, elas não me pertencem. Como o princípio do nada irá viver por mim, se nada sinto pelo nada? Olhos que seguem não vivem, onde o pensar desaparece como nuvens ao céu. Se entrega à indefinição do sonho. Sonhar me faz morrer sem o céu me esperar. Alguém chegou na morte para me levar em um sonho. Estava a dormir estrelas, como se as estrelas minhas fossem iguais às do céu. O céu vive sonhos isentos dos meus sonhos. Os passos do sonho é por onde ando sozinha, sem nada querer encontrar. Morrer é o espírito ficando no ser, num adeus a si mesmo.