Blog da Liz de Sá Cavalcante

A falta de um adeus é morrer

O ser se frustra, não consegue ser o amor de ontem, é esse agora, que não pode ser amor sem o amor de ontem. Mas o agora procura o ontem, libertando-se do ontem. Ontem é sempre não ter sido. O que sou hoje não depende do ontem. O tempo é o ontem, tento resgatá-lo como se fosse esse agora. O agora é a ilusão de ontem. O ontem é ilusão, se tiver sido vivido. A permanência é a falta dentro do sentir, onde o que flui da permanência é sem permanência. Permanência, para mim, é me ver sem sofrer. Sofrer é permanência que vivo só. Criei uma permanência distante de mim. A permanência distante, isolada, é o meu amor. Amo minha permanência na falta do silêncio. A perda da voz não é o grito, é o ser. O devastador se torna amor. Apenas o amor pode deixar de amar, sem desencontro. O céu, canção no nada de ser. Canção que nunca estará perdida, como um céu que está perdido. Nada se conquista numa canção perdida, conquista apenas esse nós com a alma suspensa. Nada na alma é continuidade do ser. Mas a alma continua sendo um ser que não há em mim. Mesmo assim, continua em mim como vida. Vida, nunca deixará de amar. Vida, foste uma alma ausente. Eu sou a presença da tua alma. A presença é a única vida entre mim e a vida. Vida, existiu mesmo sem coragem. Tua única coragem foi existir, como uma flor esmagada na lembrança. Não há lembrança sem uma flor. A lembrança é a origem da vida. Há vidas sem origem, sem silêncio, sem palavras, sem chão. Não pise na flor do pensamento, apenas por querer pensar. A inexistência existe. O meu ser quer sua inexistência, não a encontra. Encontrar a inexistência na alma, é ser novamente eu, sem esse além devassalador. Difícil deixar o além sem amor. O amor não está além de si mesmo. A falta de um adeus é morrer sem o além, não morri só, morri com a poesia de um adeus. Vida, esquecida em um adeus, que permanece em meu corpo, sem as entranhas da alma que se perderam em ser.