O que desaparece na minha ausência são as cinzas do meu valor, que se fazem presença da vida. A sensatez é uma vida vazia e inexplorada. Caminho com o amanhecer para ver o sol nascendo. Se a vida pudesse ser um pensamento, não existiria. Se o amanhecer soubesse o que sinto, seria feliz? Eu entenderia sua alegria. Se a alegria é covardia, sou covarde. Eu entendo as palavras na poesia. Me comprometi com a vida por sorrir. Há vidas que escorrem como alma. O silêncio sempre sorri para o nada, o nada é o silêncio. O amor, silêncio que não abraça, não sente, pois ama. Amar é ter sono sem sonho, sem fugir, ser apenas dormir pelo sol. Sol é sonho. O precipício do sonho é dormir. Dormir vigiando o pensar. Pensar é sonhar me abençoando. Pensar, nada significa, mas é a minha concretude de ser. Nada é mais concreto do que o sublime, que a plenitude. Meu ser é meu mundo. A plenitude é o sol nascendo sempre. O sol nunca desaparece. A alma dos que não existem, nem nunca vão existir, são a minha ausência de amor. O infinito se abandona na ausência. A alma são minhas cinzas, a procura do meu amor, não de mim. As minhas cinzas, essência sem alma, sem história de vida. Não dá para a alma resolver quem sou eu sem alma. A alma vive mais do que ela mesma. Se eu desenterrar a vida apenas para ouvir seu silêncio, apenas para não sofrer, estarei sendo egoísta? O morrer de uma lágrima me faz pensar na vida, no amor, na lembrança de uma lágrima, no sorrir da ausência, na lágrima da presença. A minha presença guardou as minhas cinzas, como sendo uma presença na minha presença. A presença do meu ser não me obriga a viver: posso ser uma presença sem vida, onde sei de mim. Saber não é viver. Não me sinto viver, me sinto sorrir como a eternidade de voar dos pássaros. Não sei se viver é bom ou ruim: fica à margem do que eu sou. O olhar não pode ser real, existe apenas na intimidade de ficar só para ver o outro. Sou só com o outro, mas não sou só no outro. A solidão protege a vida, por torná-la só. Minha ausência sente a solidão da vida, eu não sei se me sinto só pela vida, como sinto a companhia de alguém na minha solidão. Pela solidão, ainda tenho um passado no futuro da solidão, mas o meu futuro exclui o passado. A lembrança é apenas o passado, onde a lembrança se torna alma. A lembrança é submissa à realidade. A realidade é crua. O outro é a minha realidade irreal que abre meus olhos para a morte. Não adianta eu esconder a morte com meu amor: morte será sempre morte. Por isso morte é amor.