Blog da Liz de Sá Cavalcante

O silêncio sem ausência

O silêncio sem ausência, de cada palavra, soa devagar. O som é o silêncio da alma. Sem a alma o silêncio fala. Na alma a coragem de silêncio é vazia. O silêncio não se esquece na fala. A inspiração é regressão ao infinito de mim. Ausência é morte por saber. O ser de morte deixou de ser morte, tornou-se decepção. A decepção é o silêncio sem adeus. O ser existe para o seu silêncio. A expectativa do silêncio é condenar o ser a si mesmo. O ser não é ser, não é o outro. Ser é o inundar do espírito. Apenas a alma lê o ser, onde o espírito desaparece. Quis que a realidade me desse meu ser para mim. Eu tenho que me dar para mim, como o relevar da ausência é capaz de não me amar. Perdi a vida em ser. Não precisa me amar, mas me deixa sentir a solidão do amor, perceber que meu sentir é só, o amor é só, não sou só como os espaços preenchidos. Os espaços são a falta de mim. A distância é minha realidade, que é tão distante quando a distância. A distância de mim sou eu, sou eu no desejável da distância. Depois de me sentir, a distância é leve, me torna leve como quem salva o amor, aceitando sua morte: assim nasce a poesia. Deixo o não acontecer acontecer. O abraço muda o ser para outro ser. É maravilhoso não ser apenas eu! Mesmo que o abraço não seja um sentimento, eu sou o sentimento do meu abraço. O caminho em mim é só, como se eu pudesse ser poeta da vida, não sou. Não há distância entre a vida e eu, há barreiras de almas. Como viver em mim? Eu perdi o que não tenho. Tento ser a alma para todos que precisam de alma para sofrer pela vida, pelo amor. Preciso sofrer para saber quem sou. Nada é sem sofrer. Sofrer é a existência de tudo. O luto pelo existir é natural. Nada sofre existindo, por isso o luto, a tristeza que aquece o amor sentindo dor. Escrever para nada sentir, anestesiada, busco lágrima, no mar, no tempo, na vida, no amor inexistente, no abismo sem abismo. Busco lágrimas em vão, mas não tenho coragem de buscar a lágrima em mim, deixo-a perdida no céu da imaginação, quem imagina não chora, sonha no chorar que continua vazio. Nada é vazio sem chorar. Não sente nada a alma quando chora. Sem chorar a alma é brisa da sua inexistência. O consolo é um chorar eterno. O que dizer sem consolo? Falar do inconsolável é abrir a porta da existência. Existir para a existência é sem significado. Fica comigo, existir. Mesmo sem significado, sem existência, o existir é maravilhoso.