A fala é sem palavras. Nada para dizer às palavras. Elas me dominam. Alma são remendos do ser. A alma não supera a alma, por isso, a alma ainda sonha. Ser não é existir, ser é defender a morte. Eu me desprendi da alma no silêncio sem fuga. Que alma viver em mim? Meus pedaços se tornam amor de quem não necessita de amor: a solidão. A morte se destaca numa luz de vida. Assim, a morte é saudade de ver, mais do que de viver. É olhando a vida que me aproximei das palavras. Sem a vida não há palavras. Eu sonho com palavras, acordo nas palavras. Morri, continuei vazia, esperando que o amanhecer morresse em mim, como tudo morreu, como se fizesse amanhecer nas minhas lágrimas, dormentes de sono, e eu sonâmbula de amor. Não dá para terminar a poesia no amor de ontem. Ontem é mais importante para o amor do que para mim. Mesmo assim, o amor é esse agora. O momento se dissolve em palavras. Palavras são a compreensão da vida a desfazer o tempo num abraço sem corpo, sem alma. O abraço é quando corpo e alma desaparecem juntos. Meu ser é o amor que sente por mim. Se a alma passar do limite por morrer, o limite se acusará como sendo morte da alma. A vida é o limite de Deus. Ingratidão o amor amar como se fosse eu. O amor não necessita ser absoluto como uma rocha a afundar na água. O tempo, a espera, são o amor que tenho. Tudo permanece na falta de amor. A vida, a me tomar nos braços, diz que sou sua. Foi assim que morri: nadando em vida. Confiar é morrer. Falando como alma, me sinto não ouvida. O pensar transcende o nada, renovando a alma. Tudo que vivo é o desconhecido, como se meus sonhos, minha alma, tocassem tão fundo minha alma, num desaparecer eterno, onde fica apenas a mágoa de ter sido. O olhar nada tem a dizer, a viver. Vivo a sombra do meu olhar, num sol cego pelo olhar. O sol amanhece vendo, deixa sua cegueira no anonimato. Tão quieta a cegueira, parece não existir. Eu percebo a sua existência pelo seu amor. Existir me faz morrer. Tudo se termina sem o fim.