Tudo penso ser. A vida não é sintoma, não é amor para a alma permanecer alma, ela tem que ser apenas um sintoma de esquecimento, de fim. A essência não é o ser, é a perda do ser. Não pensar não é pensar em nada, pensar em ti é pensar em nada. Tantos anos faz sua ausência, que até o silêncio se calou fundo, não te quer mais, nem quer seus pensamentos, já que não sente meu sofrer, melhor mesmo se calar quando há tanto a me dizer: a sua insensibilidade não permite. Fico sempre à sombra da tua ausência, não se pode ser feliz sem amor, sem ver o outro. Nunca demonstra quem é, como vou saber de você, sentir sua falta? Não há falta, abandono no desamor, não me sinto em ti. Saudade, às vezes, é uma maneira de esquecer. Me sentiria só sem saudade, sem esquecer. É inacreditável tanta ausência. Ausência não é sintoma, é falta de alma, que ninguém pode preencher. Já quis dar a minha alma para você, você não cuidaria dela, como não cuidou de mim. Agora, nada tenho para te dar. Sua solidão, seu prazer. Mas não vou ser como você. Não desisto da vida, de ser feliz. Não te sinto quando me deixa, sinto o vazio de não perder nem ter. É o ser que torna a morte ruim. A apreensão da morte é o ser. A vida não espera nascer para surgir. Surgi no nada, não nasci ainda. Perceber não é a verdade. Nada há a perceber, amar em ti. Lembro da palidez da chuva quando o sol aparece, é assim minha tristeza. Se a morte sentir seu desamor, o que me restará para sentir? Não vou poder sentir nem mesmo esse nada entre nós.